Meios de transporte fazem parte da necessidade diária de qualquer pessoa. Hoje em dia a importância do deslocamento é imprescindível. O que ainda impressiona é a falta de qualidade de algo tão essencial. O ocorrido na Argentina no final de fevereiro deste ano foi só mais uma amostra do que tantos têm de enfrentar diariamente. O acidente do trem em Buenos Aires deixou 51 mortos e mais de 700 feridos. O que se discute agora são os motivos e os culpados da tragédia.
As empresas que obtiveram as concessões do Estado são acusadas de não investirem o suficiente em manutenção. Os vagões acidentados tinham mais de quarenta anos e os freios não funcionavam da forma adequada. Por outro lado, dependiam de subsídios do governo para sobreviver, além de venderem passagens a preços que não condiziam com a realidade dos custos de infra-estrutura e de funcionários. A política governamental não era rígida em relação à obrigatoriedade de consertos necessários, e os trens partiam apesar da superlotação e do conhecimento de falhas técnicas. A catástrofe era anunciada.
Assim como o sistema de transporte público, outras empresas estatais na Argentina só se mantêm através de verbas altíssimas. As políticas de redução de custos de serviços públicos – como gasolina e eletricidade – que no país têm hoje preços muito baixos e encobrem a inflação de 25% ao ano, têm consequências a longo prazo. Essas medidas incentivaram o consumo e fizeram a economia argentina crescer, mas mascarar a realidade compromete a sustentabilidade deste modelo. Se não é corrigido, os problemas começam a aparecer, como foi o caso do acidente ferroviário. As empresas acabam oferecendo um serviço de má qualidade e inseguro, enquanto a economia vive em um mundo fantasioso.
A oposição pede que o governo responda criminalmente pelo ocorrido. Como bem ressaltou a União de Consumidores da Argentina, não se pode deixar de perguntar para onde vai o dinheiro dos subsídios que há tanto tempo são distribuídos. Má gestão acompanhada de corrupção pode criar transtornos que vão além dos problemas financeiros.
Nenhum destes aspectos é exclusivo da Argentina. Decisões “provisórias” tomadas visando à popularidade política antes do bem-estar social e dos resultados no futuro têm eficácia artificial. Os governantes são representantes de toda uma população, mas muitas vezes lideram em busca da mobilização das massas e da notoriedade, esquecendo sua principal função. Medidas populistas são eficientes na acumulação de votos, mas uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.
Referências